Resolvi
fazer este post diferente, uma vez que já visitei a grande maioria das capitais
nordestinas. Vai aqui a minha lembrança do que vi, comi e/ou estudei sobre cada
uma delas – então o que se destaca mais propriamente é o turismo. A referência
é de baixo para cima, como se espera de um baiano que sai para desvendar os
vizinhos de região brasileira. No fim do post tem algumas (poucas) fotos.
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Museu da Gente Sergipana |
Sergipe do mês retrasado – A capital Aracaju é a maior cidade. Fui até lá
justamente este ano, depois de um jejum de mais de 15 anos (sem entregar a
idade, claro). Quem vai de carro para lá passa por muitas praias (o estado é
pequeno, mas tem uma boa dimensão de litoral). O que me chamou a atenção no
trajeto foi a distância que algumas vezes saímos do litoral para chegar até a
Aracaju, acho que para tirar esta dúvida só conversando com algum engenheiro de
estrada e rodagens do governo sergipano. Apesar de ser a capital Aracaju é
pequena, simpática e aprazível. Os congestionamentos são suaves e se tem a
impressão de estar veraneando. A água da praia é barrenta (por causa do Rio),
mas o visual é bonito e a orla bem cuidada. Há muitas opções de restaurantes
tanto para quem gosta da cultura nordestina com carne seca, abóbora, carne no
sol de ótima qualidade, a cultura do cajueiro e tem também a parte de frutos do
mar. Comer caranguejo/ guaiamu na praia da Atalaia é uma grande experiência.
Uma outra opção é a feijoada sergipana, com legumes. Algo que realmente me
encantou foi o Museu da Gente Sergipana (www.museudagentesergipana.com.br), lá
tem uma parte forte sobre os repentes, igrejas e gastronomia. Vi um
documentário sobre a queijada sergipana – uma aula de cultura.
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Praia do Francês - linda |
Alagoas de 10 anos atrás– Fui à capital Maceió há mais de dez anos em uma
viagem de carro até Fortaleza. Muita coisa deve ter mudado por lá, mas a
impressão foi das melhores apesar de a fama de cidade de extrema violência e
machismo, terra dos manda chuvas da família Collor de Melo... Fiquei em um
hotel na orla durante o fim de semana. Fiquei encantada com o passeio de
jangada e as facilidades turísticas que eles oferecem na orla. Lembro que a
estrutura do shopping era boa, mas parecia sempre apinhado, como nas outras
cidades do nordeste, a classe média concentra as atividades de lazer no binômio
praia/ shopping. Durante a nossa última aula sobre Brasil o nosso professor
Chicão falou algo bem interessante de uma viagem a Maceió – confesso que não
lembro – que concentra em um pequeno pedaço mais classe média na orla e o resto
a situação é mais carente, já próximo à Lagoa de Mundaú que circunda parte da
capital – pro isso por aqui também tem praias salobras, mas locais lindíssimos
como a praia do francês valem a viagem. Ele falou desta situação para narrar
uma história engraçada de que foi atrás de uma iguaria que viu na televisão chiclete
de camarão (que nada mais era do que camarão com queijo) e quis provar. Fiquei
curiosa e fui caçar na internet mesmo a tal da receita que pasmem é realmente
indicada como atrativo turístico – segue dois links para provar o fato (
http://blog.tnh1.ne10.uol.com.br/nidelins/2013/01/05/chiclete-de-camarao-bem-nascido-na-praia-do-frances/
http://www.youtube.com/watch?v=8PIBbHFpXco) porque assim como nos outros
estados Alagoas tem tanta comida de qualidade – a Farinha é famosíssima – para
pegar carona em uma receita tão pobre. Prefiro os quitutes, a comida nordestina
e os frutos do mar. Um dado – o principal produtor de sururu do nordeste é
Alagoas.
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Bolo de Rolo |
Pernambuco de meus pais– Pernambuco está no meu DNA. Sou filha de pai de
Petrolândia, inundada pelo Rio São Francisco, e de mãe do Recife, assim como
eles mesmo dizem por lá. Fui criada, pelo menos até os 11 anos, indo,
religiosamente de carro, todo fim de ano para Olinda, quando as estradas eram
muito piores e se levava muito mais tempo para chegar aos lugares (tá certo que
os engarrafamentos e números de carro também eram muito menores...) e na época
era um suplício, mas não tinha jeito. Tinha que enfrentar 12 horas com meus
pais e minha irmã no carro para ver minha avó, meus “titios” e primos. Cresci
ouvindo tu, pensando que “lelê” se chamava “xerém” e que “beiju” se chamava
“tapioca”. Baianidade pra mim era só da porta pra rua. Minha mãe voltava pra
casa sempre com um rala coco que as doceiras usam nas ruas do Recife antigo que
ficavam encantadas como os Pernambucanos ralavam coco muito mais facilmente que
os espertos baianos. Sou fã de doce e percebi já no mestrado que a cultura
açucareira, tão bem descrita na obra do pernambucano Gilberto Freyre, é mais
presente no estado de meus pais do que qualquer outro. O bolo de rolo das
tardes de sábado, o cartola que minha vó pedia de sobremesa quando visitava,
além da macaxeira, da manteiga de garrafa e da carne do sol, eram
reminiscências culturais que vinham de quilômetros de distância e durante a
infância eu nem me dava conta. Já na vida adulta, com muitas visitas para
visitar a família e ida ao consulado americano que insiste em não abrir em
Salvador (mas isso é outra parte da história), vi uma Recife cultural,
orgulhosa de suas raízes, com o centro histórico preservado, artistas
consagrados, a renda em alta e a cultura da noite e da alta gastronomia muito interessantes.
De negativo ficou a violência e os constantes ataques dos tubarões. Passei
momentos fantásticos nas praias do Recife que não voltarão mais... Dica – Porto
de Galinhas, Porto de galinhas, Porto de Galinhas – é perto, a estrada é boa e
vale muito apena.
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O maior São João do Mundo em Campina |
Paraíba de Fernanda – Sabe aquela
música: “Paraíba masculina mulher macho sim senhor... Olê mulher rendeira....” Ela
me lembra mais a Paraíba do que a própria Paraíba. Assim como muitas capitais
do nordeste, a lembrança de João Pessoa e de Campina Grande (mais uma vez cito
o professor Chicão para falar da importância desta cidade para o estado, maior
e mais representativa até do que a capital) não me é mais vívida só que morei
os últimos três anos com uma amiga do mestrado que veio de lá só para fazer um
estudo comparativo do nosso centro histórico com o centro histórico deles (a
grosso modo ela concluiu que o nosso modelo não deve ser seguido, sob o risco
deles também se darem mal) e numa destas reviravoltas da vida terminamos
dividindo apartamento. Ela é muito bairrista, eu não sou nada. Ela ama o forró
de lá, eu não sou nada axé e para completar a avó dela ainda borda renda
renascença, reverenciada como primor de elegância e bom gosto em todo o país e
agora até no exterior, com uma maestria dos deuses. A boa notícia é que até o
próximo mês eu vou ganhar uma destas peças. Espero honrar tal espécie da
cultura paraibana que passados três anos aprendi a conhecer e apreciar um
pouquinho mais. Para mim a Paraíba é assim: tranquila, cheia de gente séria e
trabalhadora, que gosta de cana e tem um sentimento de cultura nordestina ainda
mais arraigado. Quem vive em João Pessoa acha que a capital, com o mar, é o
melhor (aprendi que lá o carangueijo leva leite de coco). Já quem vive em
Campina Grande acha que viver na cidade mais importante, tida como a capital do
forró, São João. Não há como negar que a cultura junina é forte em todo o
nordeste, mas em Campina ela ganha ares superlativos. É muita festa, muito
forró, muita banda e muita comida. A tradição junina é europeia mas com a
cultura brasileira o culto aos três santos do mês de junho ganharam novos ares.
Tem novena, trezena, casamento na roça, barraquinha com licor, milho, bolos,
canjicas, pamonhas, mingaus, amendoim, laranja e tanto mais. Dá até vontade do
ano andar mais rápido para começar tudo novamente.
Um pouquinho do Rio Grande do Norte e do
Ceará: Voltamos para aquela mesmíssima viagem de dez anos atrás... Passei
apenas dois dias em Natal, capital do Rio Grande do Norte em um hotelzinho
perto da orla, e mais de uma semana no Ceará instalada em um ótimo apartamento
alugado em plena beira mar de Fortaleza (Praia de Iracema), perto de uma
sorveteria que deveria ter me proibido de tomar tanto sorvete. Sei que não
deveria ser uma das minhas lembranças mais vívidas de Fortaleza (ainda mais
para uma estudante de gastronomia), mas foi a primeira vez que vi uma filial do
Habbib’s e com a grana de estudante era parada certa sempre. Esta mácula no meu
currículo está tão presente quanto os deliciosos frutos do mar e o ótimo
atendimento que tive na Praia do Futuro e os passeios de bugre nas praias do
litoral. Fui a boas festas e fiquei impressionada com a qualidade de vida e os
investimentos. Em Natal também gostei dos frutos do mar. Em nenhuma das duas
cidades comi comida nordestina, mas também é o forte – a cultura do interior do
homem sertanejo, da fé (vide Juazeiro do Norte de “Padinho Pade Cícero”) é
muito presente. Destaque para o baião de dois no CE (corre na parte das fotos e
das receitas e dá um look – recomendo!) e também no RN a carne do sol, queijo
coalho (presente em todo nordeste, muito forte), manteiga de garrafa e a
linguiça do sertão.
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A desigualdade na orla de Natal |
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Maria Isabel |
O distante bem distante Piauí– Prometo
que vou me referir pela última vez à minha viagem a todas as capitais do
Nordeste (teve uma também quando eu era bem pequena, mas como não lembro não
tinha comentado ainda). Nos dois casos a
viagem meio que por encanto acabou lá no Ceará. Acho que os turistas não
continuam se aventurando pelo turismo das capitais costeiras justamente porque
Teresina é a única capital que não está na costa. Apesar de não ter o apelo
turístico do vizinho Maranhão (mas quem visita tem bastante opção de museus e
parques e até infra-estrutura – o metrô de lá já funciona desde 1989, mas é
pequeno), quem escolhe viver na capital do estado tem, pelo menos nos índices,
o que parece ser uma razoável qualidade
de vida. A geografia do estado influiu
na culinária. Dos nove estados é o que a comida praiana menos tem influência
devido provavelmente a localização da capital, mas é claro que há também
caldeiradas, casquinhas e outras delícias marítimas. Entra as comidas do Piauí
há destaque para o prato Maria Isabel (arroz com carne seca) e a cajuína. Os
outros quitutes também muito apreciados em outras partes da região nordeste
são: paçoca, baião de dois, sarapatel e
a buchada de bode. Lá existe até um festival especializado em Cabritos e
Cordeiros.
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Atrações turísticas de Teresina |
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Refri rosa só no Maranhão |
Maranhão dos lençóis ao refrigerante Jesus
– Depois de ler sobre o Maranhão realmente dá vontade de visita o local. O
problema é preparar o bolso. Passagem para o Maranhão é cara. Por isso muitos
brasileiros não vão por aquelas bandas, mas existe um turismo internacional na
região que além de estar em uma região belíssima, com destaque para
os Lençóis Maranhenses, o conjunto
arquitetônico do centro histórico de São Luís ainda é tombado como patrimônio
cultural da humanidade. Acredito que o Maranhão se torna atraente justamente
por ser um pouco diferente das outras partes do nordeste devido à colonização
francesa e holandesa que deixou marcas culturais que ficaram na gastronomia.
Falar de Maranhão é falar do Guaraná Jesus
(que foi comprado pela Coca-Cola, mas só pode ser comercializado lá), do
arroz de Cuxá, que é servido com a folha da vinagreira que também é bem difícil
de encontrar, é falar de juçara (ou açaí – consumido até com carne) panelada,
sarrabulho, dobradinha e mocotó com farofa d’água, além de feijão, mingau, miúdos
e muitos tipos de frutos do mar. Eu já tenho razões suficientes para colocar
São Luís e os Lençóis Maranhenses na minha lista de roteiro de viagens. Falta
só agora arranjar um espacinho na agenda.
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Lençóis |
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