terça-feira, 8 de outubro de 2013

Sobre o Nordeste do Brasil...




Região Nordeste

Resolvi fazer este post diferente, uma vez que já visitei a grande maioria das capitais nordestinas. Vai aqui a minha lembrança do que vi, comi e/ou estudei sobre cada uma delas – então o que se destaca mais propriamente é o turismo. A referência é de baixo para cima, como se espera de um baiano que sai para desvendar os vizinhos de região brasileira. No fim do post tem algumas (poucas) fotos.

Museu da Gente Sergipana
Sergipe do mês retrasado – A capital Aracaju é a maior cidade. Fui até lá justamente este ano, depois de um jejum de mais de 15 anos (sem entregar a idade, claro). Quem vai de carro para lá passa por muitas praias (o estado é pequeno, mas tem uma boa dimensão de litoral). O que me chamou a atenção no trajeto foi a distância que algumas vezes saímos do litoral para chegar até a Aracaju, acho que para tirar esta dúvida só conversando com algum engenheiro de estrada e rodagens do governo sergipano. Apesar de ser a capital Aracaju é pequena, simpática e aprazível. Os congestionamentos são suaves e se tem a impressão de estar veraneando. A água da praia é barrenta (por causa do Rio), mas o visual é bonito e a orla bem cuidada. Há muitas opções de restaurantes tanto para quem gosta da cultura nordestina com carne seca, abóbora, carne no sol de ótima qualidade, a cultura do cajueiro e tem também a parte de frutos do mar. Comer caranguejo/ guaiamu na praia da Atalaia é uma grande experiência. Uma outra opção é a feijoada sergipana, com legumes. Algo que realmente me encantou foi o Museu da Gente Sergipana (www.museudagentesergipana.com.br), lá tem uma parte forte sobre os repentes, igrejas e gastronomia. Vi um documentário sobre a queijada sergipana – uma aula de cultura.


Alagoas de 10 anos atrás– Fui à capital Maceió há mais de dez anos em uma viagem de carro até Fortaleza. Muita coisa deve ter mudado por lá, mas a impressão foi das melhores apesar de a fama de cidade de extrema violência e machismo, terra dos manda chuvas da família Collor de Melo... Fiquei em um hotel na orla durante o fim de semana. Fiquei encantada com o passeio de jangada e as facilidades turísticas que eles oferecem na orla. Lembro que a estrutura do shopping era boa, mas parecia sempre apinhado, como nas outras cidades do nordeste, a classe média concentra as atividades de lazer no binômio praia/ shopping. Durante a nossa última aula sobre Brasil o nosso professor Chicão falou algo bem interessante de uma viagem a Maceió – confesso que não lembro – que concentra em um pequeno pedaço mais classe média na orla e o resto a situação é mais carente, já próximo à Lagoa de Mundaú que circunda parte da capital – pro isso por aqui também tem praias salobras, mas locais lindíssimos como a praia do francês valem a viagem. Ele falou desta situação para narrar uma história engraçada de que foi atrás de uma iguaria que viu na televisão chiclete de camarão (que nada mais era do que camarão com queijo) e quis provar. Fiquei curiosa e fui caçar na internet mesmo a tal da receita que pasmem é realmente indicada como atrativo turístico – segue dois links para provar o fato (http://blog.tnh1.ne10.uol.com.br/nidelins/2013/01/05/chiclete-de-camarao-bem-nascido-na-praia-do-frances/ http://www.youtube.com/watch?v=8PIBbHFpXco) porque assim como nos outros estados Alagoas tem tanta comida de qualidade – a Farinha é famosíssima – para pegar carona em uma receita tão pobre. Prefiro os quitutes, a comida nordestina e os frutos do mar. Um dado – o principal produtor de sururu do nordeste é Alagoas.      

Bolo de Rolo
Pernambuco de meus pais– Pernambuco está no meu DNA. Sou filha de pai de Petrolândia, inundada pelo Rio São Francisco, e de mãe do Recife, assim como eles mesmo dizem por lá. Fui criada, pelo menos até os 11 anos, indo, religiosamente de carro, todo fim de ano para Olinda, quando as estradas eram muito piores e se levava muito mais tempo para chegar aos lugares (tá certo que os engarrafamentos e números de carro também eram muito menores...) e na época era um suplício, mas não tinha jeito. Tinha que enfrentar 12 horas com meus pais e minha irmã no carro para ver minha avó, meus “titios” e primos. Cresci ouvindo tu, pensando que “lelê” se chamava “xerém” e que “beiju” se chamava “tapioca”. Baianidade pra mim era só da porta pra rua. Minha mãe voltava pra casa sempre com um rala coco que as doceiras usam nas ruas do Recife antigo que ficavam encantadas como os Pernambucanos ralavam coco muito mais facilmente que os espertos baianos. Sou fã de doce e percebi já no mestrado que a cultura açucareira, tão bem descrita na obra do pernambucano Gilberto Freyre, é mais presente no estado de meus pais do que qualquer outro. O bolo de rolo das tardes de sábado, o cartola que minha vó pedia de sobremesa quando visitava, além da macaxeira, da manteiga de garrafa e da carne do sol, eram reminiscências culturais que vinham de quilômetros de distância e durante a infância eu nem me dava conta. Já na vida adulta, com muitas visitas para visitar a família e ida ao consulado americano que insiste em não abrir em Salvador (mas isso é outra parte da história), vi uma Recife cultural, orgulhosa de suas raízes, com o centro histórico preservado, artistas consagrados, a renda em alta e a cultura da noite e da alta gastronomia muito interessantes. De negativo ficou a violência e os constantes ataques dos tubarões. Passei momentos fantásticos nas praias do Recife que não voltarão mais... Dica – Porto de Galinhas, Porto de galinhas, Porto de Galinhas – é perto, a estrada é boa e vale muito apena.

Paraíba de Fernanda – Sabe aquela música: “Paraíba masculina mulher macho sim senhor... Olê mulher rendeira....” Ela me lembra mais a Paraíba do que a própria Paraíba. Assim como muitas capitais do nordeste, a lembrança de João Pessoa e de Campina Grande (mais uma vez cito o professor Chicão para falar da importância desta cidade para o estado, maior e mais representativa até do que a capital) não me é mais vívida só que morei os últimos três anos com uma amiga do mestrado que veio de lá só para fazer um estudo comparativo do nosso centro histórico com o centro histórico deles (a grosso modo ela concluiu que o nosso modelo não deve ser seguido, sob o risco deles também se darem mal) e numa destas reviravoltas da vida terminamos dividindo apartamento. Ela é muito bairrista, eu não sou nada. Ela ama o forró de lá, eu não sou nada axé e para completar a avó dela ainda borda renda renascença, reverenciada como primor de elegância e bom gosto em todo o país e agora até no exterior, com uma maestria dos deuses. A boa notícia é que até o próximo mês eu vou ganhar uma destas peças. Espero honrar tal espécie da cultura paraibana que passados três anos aprendi a conhecer e apreciar um pouquinho mais. Para mim a Paraíba é assim: tranquila, cheia de gente séria e trabalhadora, que gosta de cana e tem um sentimento de cultura nordestina ainda mais arraigado. Quem vive em João Pessoa acha que a capital, com o mar, é o melhor (aprendi que lá o carangueijo leva leite de coco). Já quem vive em Campina Grande acha que viver na cidade mais importante, tida como a capital do forró, São João. Não há como negar que a cultura junina é forte em todo o nordeste, mas em Campina ela ganha ares superlativos. É muita festa, muito forró, muita banda e muita comida. A tradição junina é europeia mas com a cultura brasileira o culto aos três santos do mês de junho ganharam novos ares. Tem novena, trezena, casamento na roça, barraquinha com licor, milho, bolos, canjicas, pamonhas, mingaus, amendoim, laranja e tanto mais. Dá até vontade do ano andar mais rápido para começar tudo novamente.

Um pouquinho do Rio Grande do Norte e do Ceará: Voltamos para aquela mesmíssima viagem de dez anos atrás... Passei apenas dois dias em Natal, capital do Rio Grande do Norte em um hotelzinho perto da orla, e mais de uma semana no Ceará instalada em um ótimo apartamento alugado em plena beira mar de Fortaleza (Praia de Iracema), perto de uma sorveteria que deveria ter me proibido de tomar tanto sorvete. Sei que não deveria ser uma das minhas lembranças mais vívidas de Fortaleza (ainda mais para uma estudante de gastronomia), mas foi a primeira vez que vi uma filial do Habbib’s e com a grana de estudante era parada certa sempre. Esta mácula no meu currículo está tão presente quanto os deliciosos frutos do mar e o ótimo atendimento que tive na Praia do Futuro e os passeios de bugre nas praias do litoral. Fui a boas festas e fiquei impressionada com a qualidade de vida e os investimentos. Em Natal também gostei dos frutos do mar. Em nenhuma das duas cidades comi comida nordestina, mas também é o forte – a cultura do interior do homem sertanejo, da fé (vide Juazeiro do Norte de “Padinho Pade Cícero”) é muito presente. Destaque para o baião de dois no CE (corre na parte das fotos e das receitas e dá um look – recomendo!) e também no RN a carne do sol, queijo coalho (presente em todo nordeste, muito forte), manteiga de garrafa e a linguiça do sertão.  


A desigualdade na orla de Natal 


Devo e não nego info sobre o Maranhão e o Piauí – prometo que pesquiso e amanhã  volto com mais.... 

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