Confesso que na Europa Portugal é uma das cidades que ainda preciso conhecer. Já viajei de TAP, pisei em terras portuguesas, mas não saí do aeroporto. Enquanto isso Portugal vai se desenhando na minha cabeça pelos livros de História do Brasil que estudamos na escola, pela visita ao Passo Imperial de Petrópolis e as loucas histórias da nossa família imperial portuguesa, pelos poemas de Pessoa e de Caeiro (que eu considero ainda mais pessoa do que o próprio Pessoa), pela prosa de Saramago e de Margarida Rebelo Pinto pela minha obsessão pelos doces portugueses. Infelizmente perdi a primeira aula de Portugal, mas estudando pelos apontamentos do professor vi duas coisas interessantes (uma eu já sabia e a outra não) a primeira é que Portugal tem um dos maiores consumos de peixes e frutos do mar per capta da Europa (60 Kg por ano) e que a doçaria portuguesa realmente é baseada em gema de ovo porque as freiras, grande número no país católico, destinavam as claras de ovo para engomar os hábitos. Para me redimir da minha falta na aula e não deixar o blog desatualizado vou me valer de dois recursos, primeiro vou me valer, mais uma vez, de um trecho da minha dissertação onde cito as influências da cultura alimentar portuguesa na cultura brasileira e depois vou usar aqui o texto de dois amigos um a filha de parentes que está morando em Portugal e fez um paralelo do que ela está achando da experiência e depois o texto de um conhecido português, que conhece muito o Brasil e a meu pedido fez algumas reflexões muito interessantes sobre a comida para o português, com alguns toques para nós brasileiros. Ambos os textos não receberam nenhum tipo de edição. Espero que gostem. São impressões muito legais que contribuíram muito para enriquecer este post.
Doçaria portuguesa |
1 - Trecho da dissertação de Larissa Ramos - Pitadinha de Dendê (todos os direitos reservados)
Nas cartas dos representantes portugueses que estiveram em terras brasileiras durante o Brasil Colônia é evidente, nos primeiros tempos, a saudade das delícias e temperos do reino que não podiam ser bem armazenados durante as viagens, por uma impossibilidade tecnológica da época, e, posteriormente, também das diferenças climáticas que faziam muitos produtos da terrinha não se adequarem aos solos nacionais**. Segundo Guilherme Radel (2006), após o fim do primeiro século nas Américas, o poder de adaptação do português falou mais alto e, mesmo tendo trazido muito de seus hábitos e sua cozinha para abaixo da linha do Equador, a adequação à condição local foi grande.
Ao lado de trazer os ingredientes para funcionar suas cozinhas como se em Portugal estivessem, os portugueses fizeram várias adaptações em suas receitas e em suas ementas para aproveitar o que as terras baianas já ofereciam. Nas suas receitas passaram a adotar as folhas e as raízes da taioba, o broto da mandioca, os carás, o aipim, o maxixe, o coentro, a pimenta de cheiro, a pacova (banana da terra), a castanha de caju torrada, o amendoim, a goma da mandioca, a farinha da mandioca e o beiju. (RADEL, 2006, p.23).
Foi através do português que a técnica de frigir alimentos, aprendida por eles com os árabes, e de adoçar e salgar ficaram conhecidas. Apesar de não ser um costume adotado no primeiro momento, devido a problemas com a plantação de trigo, o amor dos portugueses pelo pão, que aqui tiveram que substituir durante muito tempo pela ingestão de subprodutos da mandioca, parece ter chegado ao paladar dos brasileiros. Outras preciosidades vindas do reino, a exemplo do toucinho, linguiça, presunto, vinho, hortaliças, saladas, azeite e vinagre, foram rapidamente incorporadas ao gosto nacional e, segundo Câmara Cascudo, “o que não era brasileiro e vinha de Portugal tornou-se brasileiro pela continuidade do uso norma” (2004, p.242).
Ele e outros autores também apontam o uso de ovo de galinha, principalmente para confecção da culinária doce, parte da alimentação que teve uma influência portuguesa ainda mais estreita.
O português do século XV se alimentava de uma grande variedade de mariscos e peixes, entre eles a sardinha e o bacalhau, que foram substituídos por variedades da pesca local, como guarajubas e cavalas nos mares e surubins nos rios; além da paixão por embutidos; gordura animal; variedades de carnes de criação doméstica, herança do consumo nacional; caças, gosto que também precisou se adequar à realidade brasileira; e muitas frutas secas, diferentes das disponíveis no Brasil. Muito mais do que a base alimentar que precisou se adequar ao meio e também sofreu influência de outros povos, o que também é marcante no legado alimentar português são as regras de etiqueta, surgidas na França e compartilhadas com o resto da Europa, para só assim serem difundidas para todo o mundo ocidental. Trata-se do modo de servir, comer e se portar, que também reflete, marca e caracteriza o que foi trazido, apreendido e reelaborado para a cultura local, ao longo dos séculos, desde que os primeiros portugueses vieram se estabelecer no Brasil com o intuito de colonizar as novas terras.
** É Gilberto Freyre (1958) quem fala tanto do clima português, muito mais semelhante ao brasileiro do que o dos países ao norte da Europa, quanto da versatilidade dos próprios homens ibéricos acostumados a viagens e à adaptação a novas realidades durante a expansão marítima, o que o escritor pernambucano atribui à influência moura, que resultou da ocupação dos árabes e bérberes na região por muitos séculos.
Visão da Baixa Lisboa |
2 - Depoimento de Luiza Campelo
Tenho 14 anos e sou brasileira. Estou atualmente morando em Coimbra porque meus pais estão fazendo mestrado em direito. Sobre a comida portuguesa, posso dizer que é um pouco parecida com a do Brasil. Nós encontramos aqui quase todos os ingredientes da culinaria brasileira, pois existem semelhanças entre as duas. Os portugueses, aparentemente, valorizam uma alimentação variada e balanceada, já que tomamos sopa duas vezes ao dia: ao almoço e ao jantar. Como segundo prato, temos a proteina acompanhada de batatas e como sobremesa uma porção de fruta. O prato mais apreciado por eles é o bacalhau. Os que eu mais gosto são o bacalhau a brás e o com natas. O vinho portugues também é muito conhecido. Para terminar não posso esquecer de falar dos deliciosos doces portugueses como o pastel de natas, o pastel de Tentúgal e os ovos moles de Aveiro entre outros.
As tranvias de Lisboa |
3 - Depoimento de Manuel Pereira
Vamos primeiro então falar sobre a questão do pastel de belém, e desmistificar o mito que tudo é pastel de Belém. Esse é o meior erro que muitos Brasileiros cometem.
Pastel de belém só existe num lugar chamado por sinal pasteis de belem. O bolo é chamado de pastel de natal, e pode comprar em qualquer lugar do pais, sendo que em lisboa são os melhores pois o bolo é da região de Lisboa, para mim o melhor é o de uma nova pastelaria chamada Nata Lisboa
A cozinha portuguesa é muito diferente de região para região, pode-se dizer que a unica coisa que nos une em termos culinarios como pais é o bacalhau é o azeite. O bacalhau porque comemos bacalhau com tudo e tudo se come com bacalhau. Há até quem faça pizza de bacalhau. Verdade seja dita, até hoje não consegui encontar um produto que não se pudesse comer com bacalhau. em relação ao azeite, tudo leva azeite o azeite é tanto utilizado para cozinhar como para temprar comida e saladas, eu por exemplo não sei cozinhar sem azeite. Até para fritar um ovo eu usso azeite.Pastel de belém só existe num lugar chamado por sinal pasteis de belem. O bolo é chamado de pastel de natal, e pode comprar em qualquer lugar do pais, sendo que em lisboa são os melhores pois o bolo é da região de Lisboa, para mim o melhor é o de uma nova pastelaria chamada Nata Lisboa
Vista da cidade do Porto |
Vinhedos em Portugal |
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